quinta-feira, outubro 10, 2002

Esta bruto ainda. Não tive nem mesmo tempo para
reler e tentar encontrar erros. De qualquer maneira
contem a essência do que pretendia passar.

Fim.



Sentou-se de frente para sua escrivaninha e pôs-se a olhar pela janela a bela noite que surgia. Os negros cabelos teimavam em cair sobre seus olhos e ela os afastava com o mesmo movimento repetido. As estrelas apareciam aos poucos, como se a primeira tivesse visto algo incrível e havia ido buscar as outras, que curiosas olhavam para baixo a procura de algo espetacular.
Chamava-se Gisele, mas este era apenas o nome que haviam dado a ela. Preferia qualquer outro, e o que melhor se adequara era Insônia. Nome que utilizara tantas vezes antes de hoje nos bate papos na internet. Nome que por tantas vezes fora chamada ao telefone. Nome que por tantas vezes fora dito em seu ouvido em meio a respirações e gemidos. Nome que se registrara em sua personalidade e era o que era, era Insônia.
A tela de seu computador brilha a sua frente, mas hoje ela não a nota. Seus olhos brilhavam perdidos ao mar negro a sua frente. Sentia-se novamente pequena e feliz. Lembrava-se de como seus pés balançavam sentada no capo do velho opala da família. De como as brincadeiras com o pessoal da rua eram gostosas. Lembrava do esconde-esconde, da amarelinha, dos jogos de taco, das idas a praia. Sua memória corria solta. Seus pequenos olhos de um preto quase azulado pareciam rodopiar, como se estivesse vendo cada uma das cenas. Como se estivesse vivendo cada uma das cenas.
O mundo a havia estragado. Não tinha mais horário. Não fazia mais nada físico. Perdera os amigos, alguns para o trabalho, outros para o estudo, outros para a distância e talvez todos para a preguiça. Perdera algumas outras coisas, talvez banais. Perdera o amor, perdera a capacidade de se importar. Sentia-se distante de todos e de seus sofrimentos. Seguia o que seu corpo pedia. Comia quando havia necessidade. Beijava e fazia sexo quando nem mesmo sua mente escapava da urgência.
Não contava mais o nome de todos que haviam a beijado. Beijar. Como isso lhe fora importante. Como gostava de sentar ao lado do seu pequeno amor secreto. De ouvi-lo respirar. De ver como seus olhos brilhavam enquanto falava. De roçar, mesmo que sem querer, o braço com o dele. E como partira seu mundo quando ele a beijou e foi embora, junto com a mudança de sua família.
Já havia caminhado em todas as direções. Já havia amado homens mais novos, mais velhos, mulheres, crianças, animais. Qualquer um que mostrasse a menor fagulha de amor pela vida. Qualquer um que parecesse entende-la. E sofria.
Então se fechou no seu pequeno mundo. Trancafiou-se num mundo de apelidos, onde ninguém era muito bem o que era, e ao mesmo tempo, eram todos a imagem do que gostariam de ser.
Mas nada disso importava agora. Havia se perdido em pequenas lembranças de um tempo quase esquecido. Num tempo em que era feliz, mesmo que a felicidade fosse algo que não tivesse conhecimento naquela época.


“Se vamos morrer, que seja cada um no momento mais feliz. Que seja em nossa infância onde tínhamos toda a nossa vida. Onde tínhamos esperança”. Pensou.

“Em cada quarto, em cada casa, em cada móvel que alguém estivesse sobre, havia uma pequena fagulha, um brilho único. Um sentimento nostálgico tomava a cada ser humano, onde quer que estivesse. Um sorriso tardio surgia nos lábios de cada um e em alguns, algumas lágrimas brotavam, já secas, de seus olhos. Todos largavam tudo que estavam fazendo e deixavam a mente, cada vez mais enferrujada para estes assuntos, viajar, se perder num mundo criado por elas mesmas, em tempos, para alguns, tão obscurecidos.
Muitos acidentes aconteceram, mas ninguém percebeu. Nenhum dos envolvidos sentiu nada, pois a onda nostálgica havia coberto todos, e ninguém mais se importava.

Sem que chamasse atenção, o manto negro avançou e cobriu tudo. O fim havia chegado, mas todos viviam melhores épocas agora, do que esta.


Não aguentei e resolvi colocar outra
música da Fiona aqui. Acho que ouvi ela
umas 4 vezes nos últimos 20 minutos.
Essa já é do segundo cd dela:

Paper Bag
Fiona Apple - When the Pawn..


I was staring at the sky, just looking for a star
To pray on, or wish on, or something like that
I was having a sweet fix of a daydream of a boy
Whose reality I knew, was a hopeless to be had
But then the dove of hope began its downward slope
And I believed for a moment that my chances
Were approaching to be grabbed
But as it came down near, so did a weary tear
-I thought it was a bird, but it was just a paper bag
-Hunger hurts, and I want him so bad, oh it kills
Cuz I know I’m a mess he don’t wanna clean up
I got to fold cuz these hands are too shaky to hold
-Hunger hurts, but starving works, when it costs too much to love
And I went crazy again today, looking for a strand to climb
Looking for a little hope
Baby said he couldn’t stay, wouldn’t put his lips to mine,
And a fail to kiss is a fail to cope
I said, ‘Honey, I don’t feel so good, don’t feel justified
Come on put a little love here in my void,’ - he said
‘It’s all in your head,’ and I said, ‘So’s everything’ -
But he didn’t get it - I thought he was a man
But he was just a little boy
-Hunger hurts, and I want him so bad, oh it kills
Cuz I know I’m a mess he don’t wanna clean up
I got to fold cuz these hands are too shaky to hold
-Hunger hurts, but starving works, when it costs too much to love
-Hunger hurts, and I want him so bad, oh it kills
Cuz I know I’m a mess he don’t wanna clean up
I got to fold cuz these hands are too shaky to hold
-Hunger hurts, but starving works, when it costs too much to love

Me dêem sua opinião:
Vocês acham que as pessoas que sentam no ônibus e
ficam olhando pra fora são pessoas introspectivas,
que, assim, tentam não participar no que ocorre no
coletivo e tampouco estão interessadas no que está
na rua, prestando mais atenção aos seus pensamentos,
deixando a mente divagar. Enquanto as pessoas que
ficam encarando as que entram, prestando atenção no
que ocorre dentro do ônibus para aproveitar qualquer
situação para puxar conversa são pessoas extrovertidas?

Só a letra da música que está tocando aqui:

Never is a Promise
Fiona Apple - Tidal


You'll never see the courage I know
Its colors' richness won't appear within your view
I'll never glow - the way that you glow
Your presence dominates the judgments made on you
But as the scenery grows, I see in different lights
The shades and shadows undulate in my perception
My feelings swell and stretch; I see from greater heights
I understand what I am still too proud to mention - to you

You'll say you understand, but You don't understand
You'll say you'd never give up seeing eye to eye
But never is a promise, and you can't afford to lie

You'll never touch - these things that I hold
The skin of my emotions lies beneath my own
You'll never feel the heat of this soul
My fever burns me deeper than I've ever shown - to you

You'll say, Don't fear your dreams, it's easier than it seems
You'll say you'd never let me fall from hopes so high
But never is a promise and you can't afford to lie

You'll never live the life that I live
I'll never live the life that wakes me in the night
You'll never hear the message I give
You'll say it looks as though I might give up this fight

But as the scenery grows, I see in different lights
The shades and shadows undulate in my perception
My feelings swell and stretch, I see from greater heights
I realize what I am now too smart to mention - to you

You'll say you understand, you'll never understand
I'll say I'll never wake up knowing how or why
I don't know what to believe in, you don't know who I am
You'll say I need appeasing when I start to cry
But never is a promise and I'll never need a lie


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ps. Tinha um monte de pensamentos como esse antigamente.
Um exemplo era que eu achava( ainda acho um pouco) que os
sentidos funcionavam todos pela mesma energia, então, quando
você queria usar um deles melhor, devia parar de usar um pouco
o outro. Um exemplo para isso são os cantores que quando vão
para as notas mais difíceis fecham os olhos.

ps2. Fê, prometo que devolvo seu cd da Fiona logo mais =D

terça-feira, outubro 08, 2002

Ainda amigos?

Meu pai sofreu muito nos últimos tempos.
Um dos caras que ele considerava seu amigo mais próximo,
lhe virou as costas num dos momentos mais difíceis da vida
dele ( e da nossa conseqüentemente). Pouco tempo depois, um
dos amigos que o conhecia a mais tempo, morreu. Deixando
uma profunda marca nele, que se sente um pouco sem amigos,
ou melhor, sem amigos em que ele possa confiar.

Gostaria de pensar que isso não vai me acontecer. Que, talvez,
tenha feito amizades e vínculos mais profundos que meu pai fez
durante sua vida. Mas, o tempo foi passando, e as vezes eu sinto
que os passos meus e de cada um dos meus amigos
seguem caminhos diferentes e, por vezes, quase opostos.
Sinto, que aos poucos, somos esfacelados e o que
éramos torna-se uma foto tremida e mal revelada, quase fugida.

Muitas vezes me questionei sobre o que havia conosco, de como
os tempos de outrora eram melhores, mais providos e mais cheios
de alegria e possibilidades. Olho com descrença para a podridão
que nos cerca. Como chegamos a isso? Como perdemos nossos
laços?

Mas tenho encarado da forma errada. Nossos amigos, os antigos,
os novos, os que sumiram, os que constantemente aparecem.
Todos eles fazem parte de mim, e assim, de cada um deles. Todos
são parte do meu ( e quando digo meu, é com orgulho,
pois todos o merecem)
pessoal. Todos fizeram por merecer fazer
parte disto.

É claro que temos nossos defeitos, mas sempre tivemos, eles só
foram mudando. Alguns se tornaram mais sombrios, outros mais
amenos. Mas, quando olho no rosto de algum deles e vejo que ele
acompanhou meu pensamento e está sorrindo pelos mesmo motivo,
como pessoas que se conhecem a tanto tempo (e não é assim
mesmo?),
sei que não estamos sozinhos e que poderá chegar a
idade, poderão chegar as novas dificuldades, nós sempre estaremos
nos pensamentos uns dos outros.

Espero que todos se lembrem disso.
O Sabor... mas a que preço?

É uma coisa tão obvia que, acredito, as pessoas dificilmente
param para pensar nisso. De qualquer forma, por coisas que
andam acontecendo, resolvi escrever um post sobre isso.
(e aproveitar pra testar novas cores =D ).


Quanto menos se tem, mais gostoso fica quando se tem algo.
Quanto mais se tem, menos se dá valor.

Quando você ganha uma competição pela primeira vez, parece
que cada gota do seu suor, cada hora perdida em cima daquilo,
é uma pequena parcela da sua alegria naquele momento.
Agora, quando você é o campeão mundial pela ducentésima vez,
você sai do campeonato, e vai comer uns tacos em algum lugar,
volta pra casa e dorme, ninguém quer mais saber que você é o
melhor do mundo de novo, nem você mesmo.

Quando se dá o primeiro beijo. Ou quando se tem namoricos
esporádicos, coisas poucas e significativas, cada beijo conta.
Todo o corpo parece tremer e se desfazer um pouco a cada toque,
a cada sorriso. Agora, quando se vai em qualquer balada e beija 8,
9 meninas, na mesma noite, você nem pensa muito sobre o assunto.
Sai andando, come no Am/Pm, dorme, e nem se quer se lembra do
nome delas no dia seguinte.

Quando se tem muito dinheiro, você vai numa balada, gasta 70 contos,
e nem lembra o que pediu. Compra um pedaço de pano por 200 reias,
guarda no armário, nunca usa, e ainda diz que está sem roupas.
Mas, quando a situação esta apertada, ir até a esquina de sua casa,
comprar uma Gini de limão e dividir com um amigo, acaba parecendo
a melhor coisa do mundo. Usar as mesmas roupas e agradecer por poder
lavar no final de semana faz parecer que nunca vai lhe faltar nada.

Quando apenas se encontra um dos amigos uma ou duas vezes num mês,
faz com que aproveitemos ao máximo o momento ao lado deles, que
conversemos até nos exaurimos, que realizemos o que eles significam para
nós. Enquanto, se os vemos todos os dias, quase o tempo todo, chegamos,
até mesmo, a não querer vê-los por algum tempo.

Ter pouco é melhor, mas é muito mais fácil quando se tem tudo.